Todo Artista Tem Que Ir Aonde o Povo Está

Todo Artista Tem Que Ir Aonde o Povo Está

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Todas as vezes em que saio de minha casa e vou para cidades pequenas realizar trabalhos junto aos professores das redes todo artista tem que irpúblicas, eu me lembro do verso de Milton Nascimento na música ” Nos Bailes da Vida ” que intitula este texto. Não que me considere um artista, mas porque vou onde outros profissionais não se dispõem a ir em virtude da distância ou do acesso difícil, com estrada de terra, muitas vezes.

Quando chego numa localidade, sou recebida com muito carinho pelos professores , faço meu trabalho e geralmente a rádio ou o jornal da região me pede um depoimento. Digo que  a intenção é a de levar ideias distintas daquelas com as quais os professores trabalham, não  porque sejam melhores, mas porque trazem novos pontos de vista e a aprendizagem se dá pela diferença. Não há como aprofundar muito além disso, mas aqui, neste espaço, posso fazê-lo e compartilhar com você, meu leitor, esta ideia.

Em primeiro lugar, está bem claro em minha mente que falo sob o ponto de vista da Psicopedagogia, que estuda e atua sobre o processo de aprendizagem humana e considera que as mudanças só podem ser realizadas a partir de reflexões que gerem conscientização a respeito de algum assunto: Sou psicopedagoga  e intervenho sempre com o objetivo de possibilitar mudanças.  Muitas vezes faço palestras para  mais de 100 pessoas. Se apenas uma delas for tocada por alguma palavra minha, poderá mudar em alguma coisa e eu contribuí para isso. Este é o desafio e a recompensa!

Outro ponto para o qual estou sempre atenta é o de me posicionar num lugar de curiosidade e humildade, ouvindo as pessoas da cidade, inteirando-me de seus problemas , agindo também como aprendente a fim de desmistificar a posição de quem chega de fora e , por esta simples razão, sabe mais do que quem ali vive. Isso cria um clima de empatia entre mim e o grupo, que facilita a interação.

Sinto também que narrar minhas histórias pessoais de aprendizagem e de ensinagem, minhas dificuldades e facilidades, tornam o trabalho mais espontâneo e verdadeiro, aproximando-me dos professores que passam a me ver como um deles, como alguém que compartilha vivências semelhantes , derrubando barreiras que poderiam dificultar nossa comunicação.

Há alguns anos me apropriei da técnica da mediação proposta por Reuven Feuerstein e uso os critérios de mediação propostos por ele em meus trabalhos. Utilizo , no mínimo, os três critérios básicos que devem estar presentes, segundo este autor, em toda situação mediada: intencionalidade/reciprocidade; significado e transcendência.

Os conteúdos das palestras, das oficinas ou dos cursos é geralmente discutido com a equipe da Secretaria de Educação da cidade e são objetivos. Porém, sempre aproveito as oportunidades que as temáticas propiciam para tratar de algum aspecto moral ou ético a elas  relacionado, transcendendo e ampliando os objetivos traçados.

2588347668Estes aspectos foram sendo valorizados por mim aos poucos, no decorrer deste caminho trilhado principalmente depois que me aposentei  e passei a desenvolver projetos de capacitação e de formação de professores. A cada trabalho realizado sinto-me mais confiante quando escuto alguém que estava no grupo chegar perto de mim e dizer que eu lhe havia ajudado muito.

Acredito que a vida seja uma troca de experiências, energias, vivências e  que devemos aproveitar as oportunidades que ela nos oferece para crescermos . Ao meu ver este crescimento é mais saudável quando realizado juntamente com outras pessoas. A Psicopedagogia é minha área  de atuação e, no âmbito institucional, se oferece como um grande campo de crescimento para mim e para os professores com os quais trabalho porque abre espaços para tornar pensáveis minha maneira  de atuar e as deles, que estão na sala de aula, enfrentando diariamente o desafio da instrução/educação de nossas crianças, num mundo que inibe o pensamento por meio da velocidade com que as informações transitam e no qual a impulsividade é a marca. Por isso é que sigo indo aonde o povo está !

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Júlia Eugênia Gonçalves
Júlia Eugênia Gonçalves
Psicopedagoga há 41 anos, com formação em mestrado pela UFF./RJ. Carioca, moro em Varginha/MG desde 1996, quando fui contratada pela UEMG para participar de um projeto de formação de professores, depois de ter me aposentado da rede pública federal, onde atuava como docente no Colégio Pedro II. Pertenci ao Conselho Nacional da ABPp de 1997 a 2010. Presido a Fundação Aprender, em Varginha, instituição pública de Direito Privado, sem finalidades financeiras e de utilidade pública.Atualmente tenho me especializado em EaD e suas interfaces com a Psicopedagogia.

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