No momento em que nos encontramos, no qual a grande maioria da população se encontra em isolamento social, a tecnologia da informação, expressa por meio das mídias, estabelece uma verdadeira mística onde ambientes virtuais substituem o mundo físico, acessos e cliks substituem o convívio entre as pessoas ; o anonimato e a atitude solitária tomam o lugar do diálogo e da solidariedade cooperativa.
Considerando que esta realidade adentrou no campo da Educação por força de decretos estaduais e municipais que suspenderam as aulas e de resolução do MEC que indicou a possibilidade de haver substituição de atividades presenciais por recursos on line, os mitos que fazem do fascínio por este novo universo de possibilidade de “ser gente”, podem representar uma forma de consolidar ainda mais a desumanização das relações humanas e a coisificação das próprias pessoas.
Ao se supor que as tecnologias assumam um papel educativo, e não informativo, o compromisso com a liberdade e o diálogo cede espaço a uma mística que confunde treinamento com aprendizagem. Qualquer mídia, por si só, representa apenas uma forma de divulgar informações e dados, os quais somente se transformarão em conhecimento e formação humana pela relação entre estas informações e dados e os seres humanos.
Isso se torna ainda mais perigoso quando o contexto é a Educação Infantil, que tem no brincar sua forma mais expressiva de ensino e o que estamos vendo, em sua grande maioria, são escolas utilizando os recursos virtuais dos chamados sistemas de ensino que adotam, para treinar habilidades em crianças que necessitam muito mais de contato físico e afeto do que de treinamento.
As tecnologias da informação e comunicação são fonte de progresso humano quando utilizadas de forma mediatizada e coerente com as possibilidades dos pontos de convergência que atraem.
É preciso que tenhamos atenção ao uso indiscriminado destas tecnologias para substituição de algo que é impossível substituir: o contato humano.
A crise de saúde pública pela qual passamos deve ser aproveitada para reflexões acerca do papel da escola na vida de nossas crianças e do acúmulo de conteúdos que os tais sistemas de ensino privilegiam. Para quê ? Por quê ? Pais e educadores precisam resgatar sua autonomia na educação das crianças sob sua responsabilidade. Educar é um ato humano primordial, restrito a uma família e a uma escola que precisam exercer sua autoria neste processo e que não se permitam ficar reféns de sistemas que são genéricos e impessoais.