Bons pais precisam fazer 1 asneira a cada 8 horas

Bons pais precisam fazer 1 asneira a cada 8 horas

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Professor e psicanalista português diz que crianças que fazem birra ‘têm alma’

Eduardo Sá. “Pais que mais me preocupam são os que querem tanto não errar que se tornam assustados e inseguros, como se qualquer erro fosse um drama” – Divulgação / Divulgação

Psicólogo clínico, psicanalista e professor da Universidade de Coimbra, o português Eduardo Sá, que lança este mês no Brasil o livro “Brincar faz bem à saúde”, diz que os pais de hoje confundem autoridade com autoritarismo

Como as nossas crianças estão sendo criadas e como o senhor acredita que deveriam ser?

Somos as melhores famílias e os melhores pais que a Humanidade jamais “produziu”. Planejamos a parentalidade. Cuidamos dos nossos filhos com o coração e com a cabeça. E vamos mais vezes à escola num ano escolar do que os nossos pais terão ido em quase todo o nosso percurso educativo. No entanto, todos estes cuidados não têm sido acompanhados com um exercício de autoridade sensato. A autoridade resulta da sabedoria, do sentido de justiça e da bondade. Logo, as crianças acolhem-na, sem grandes explicações, mas me parece que os pais de hoje foram educados em famílias, escolas e numa atmosfera social tão autoritárias que confundem autoridade e autoritarismo. E, em vez de usarem o “não!” com alma e convicção, transformam-se em “pais bonzinhos”, que exercem a autoridade com medo, como se um “não!”, em vez de proteger, traumatizasse as crianças. Os pais também esquecem, por vezes, que a família é mais importante que a escola. E se a escola é um bem precioso e indispensável, a família será a enciclopédia e a gramática da vida. Em outras palavras: os pais confiam à escola funções que têm de ser suas.

Todo pai e mãe quer acertar, acredito. Isso é bom?

Nim… Isto é: sim; e não. Mas eu explico. As mães reclamam para si um “sexto sentido”, que é uma forma de dizer aos filhos que elas os sentem. É verdade que todos os pais adivinham os filhos. E acertam milhares de vezes! Mas, em diversas circunstâncias, parecem querer muito ser perfeitos. Se já acertam tantas vezes, por que precisam ser perfeitos? Porque querem demonstrar a si próprios que são melhores, como pais, do que os pais que tiveram. Na verdade, pais humildes demonstram aos filhos, todos os dias, que os sábios não são aqueles que não erram; são, antes, aqueles que aproveitam todos os seus erros para aprender. Gosto que os pais não percam de vista que os bons pais precisam fazer uma asneira a cada oito horas. Os pais que mais me preocupam são os que querem tanto não errar que se tornam assustados e inseguros, como se qualquer erro fosse um drama.

Júlia Eugênia Gonçalves
Júlia Eugênia Gonçalves
Psicopedagoga há 41 anos, com formação em mestrado pela UFF./RJ. Carioca, moro em Varginha/MG desde 1996, quando fui contratada pela UEMG para participar de um projeto de formação de professores, depois de ter me aposentado da rede pública federal, onde atuava como docente no Colégio Pedro II. Pertenci ao Conselho Nacional da ABPp de 1997 a 2010. Presido a Fundação Aprender, em Varginha, instituição pública de Direito Privado, sem finalidades financeiras e de utilidade pública.Atualmente tenho me especializado em EaD e suas interfaces com a Psicopedagogia.

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