O Antigo e o Novo na Educação Infantil

O Antigo e o Novo na Educação Infantil

mãos coloridas

Fui das poucas crianças de minha geração que frequentou o ” Jardim da Infância “. Esta era a denominação do que hoje se chama ” Educação Infantil”. Minha escola chamava-se “Pedacinho do Céu” e era uma fonte de puro prazer frequentar as aulas.

mão na massaOs estudos que empreendi na área da Psicopedagogia me levaram a compreender a infância como um período da vida em que o brincar é essencial para o desenvolvimento psicomotor, social e afetivo, conforme Piaget, Vygotsky e Wallon propuseram. Considero que a escola, principalmente neste nível, deve propiciar às crianças o espaço do brincar necessário para este desenvolvimento.

Infelizmente convivo hoje com  crianças de dois anos de idade que já levam tarefa para casa e  seguem apostilas , cujas professoras são instadas pela escola a cumprir o que o sistema que imprime e vende a tal apostila propaga. Sinto-me mal quando vejo uma criança de 3 anos decorando o alfabeto e tendo que escrever seu nome em letra cursiva. Onde está a informalidade que caracteriza o início da escolaridade ?

Parece-me que a nova Educação Infantil está perdendo as características que formam sua essência : uma abordagem lúdica para o desenvolvimento de habilidades sociais, psicomotoras, linguísticas, artísticas e perceptivas relevantes para legoque a criança possa adquirir capacidades de leitura, escrita e raciocínio lógico-matemático ao ingressar no Ensino Fundamental com seis anos de idade. Percebo que a Lei que antecedeu o início da escolaridade formal para 6 anos, provocou nas escolas de Educação Infantil o adiantamento da alfabetização, de forma precoce, provocando problemas de difícil solução, mais adiante.

 

Recebo crianças de 5 anos no  consultório psicopedagógico, encaminhadas pela escola porque estão com dificuldades de aprendizagem. O que é isso ? Como apresentar dificuldades num tipo de ensino que deve se caracterizar pela espontaneidade ? Não compreendo este novo modo de trabalhar com as crianças pequenas, já que elas estão, cada vez mais, necessitando de espaços-tempos de brincadeiras ao ar livre, de atividades artísticas, de música, dança e teatro, pois a mídia televisiva e eletrônica invadiu os lares e distanciou as pessoas.

Comecei este post relatando que iniciei minha escolaridade muito cedo. Tive oportunidade, na Educação Infantil, de brincar e aprender brincando. Isso me tornou uma pessoa ativa e autônoma, que se arrisca, inclusive, a escrever sobre este assunto.

Lamento que a sociedade tenha se tornado tão competitiva que leve crianças pequenas a se ” esforçar “para atender ao que a escola julga ser o mais adequado para elas e que suas famílias não percebam que este caminho leva à submissão. Isso se torna uma incoerência: como formar sujeitos competitivos na passividade ?  E daí, surge uma nova pergunta: Queremos uma sociedade melhor ? Então, devemos criar sujeitos pró-ativos e que possam colaborar uns com os outros.

Júlia Eugênia Gonçalves
Júlia Eugênia Gonçalves
Psicopedagoga há 41 anos, com formação em mestrado pela UFF./RJ. Carioca, moro em Varginha/MG desde 1996, quando fui contratada pela UEMG para participar de um projeto de formação de professores, depois de ter me aposentado da rede pública federal, onde atuava como docente no Colégio Pedro II. Pertenci ao Conselho Nacional da ABPp de 1997 a 2010. Presido a Fundação Aprender, em Varginha, instituição pública de Direito Privado, sem finalidades financeiras e de utilidade pública.Atualmente tenho me especializado em EaD e suas interfaces com a Psicopedagogia.

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