Os Professores e os Sistemas Apostilados de Ensino

Os Professores e os Sistemas Apostilados de Ensino

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Hoje tratarei aqui de um assunto que gera controvérsias, mas, ao meu ver, elas são sempre saudáveis. Por isso, vamos ao ponto: a questão do uso de sistemas apostilados pelas escolas e o que causa nos professores.

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Em meu trabalho de consultoria e assessoria psicopedagógica me deparo com um fato que já se tornou comum: a utilização de material apostilado, criado pelos chamados sistemas de ensino, pelas escolas. Acredito que, hoje em dia, poucas sejam aquelas que não sigam tais materiais, exceto as que seguem uma linha pedagógica diferenciada , tais como as escolas Waldorf e outras de natureza experimental ou religiosa.

Que impacto isso causa nos professores ? É o que me chama a atenção !

Muito se diz sobre o descrédito dos docentes na sociedade,sobre  a desqualificação do trabalho do  professor etc.  Penso que isso tem, além das questões sociais e formativas, o problema dos sistemas de ensino apostilados. Por que ? Porque se o professor não pode criar em seu trabalho, ele perde o desejo de atuar. Passa a agir como alguém que repete, sem autoria.

Os sistemas de ensino apostilados impedem que os professores sejam autores de seus materiais de ensino, podam sua criatividade. Eles têm que seguir o que está nas apostilas e não me venham dizer que há flexibilidade, porque não há. Caso não cumpram o conteúdo estipulado na apostila, são criticados pela equipe gestora e, pior, até pelas famílias.

Sem entrar no mérito econômico deste processo de massificação dos sistemas de ensino nas escolas,  que se iniciou nas escolas particulares e hoje já atinge as escolas públicas, chamo a atenção para o fato de como ele foi pernicioso para aumentar  baixa estima dos professores, já que dificultam a autorização de um lugar de sujeito pensante, entre os docentes. Como ensinar sem pensar ? Sem criar ? Sem ter liberdade para escolher como conduzir suas aulas?

Mais do que ensinar (mostrar) conteúdos de conhecimentos, ser professor significa abrir um espaço para aprender. Espaço objetivo-subjetivo em que se realizam dois trabalhos simultâneos:

  1. a) construção de conhecimento;

  2. b) construção de si mesmo, como sujeito criativo e pensante.

Entre ensinar e aprender abre-se um espaço. Um campo de autorias, de diferenças entre professor e aluno. O docente necessita se encontrar em sua autoria, em sua criatividade, para poder ensinar e os sistemas apostilados nas escolas são um impedimento para que este espaço se estabeleça.

Júlia Eugênia Gonçalves
Júlia Eugênia Gonçalves
Psicopedagoga há 41 anos, com formação em mestrado pela UFF./RJ. Carioca, moro em Varginha/MG desde 1996, quando fui contratada pela UEMG para participar de um projeto de formação de professores, depois de ter me aposentado da rede pública federal, onde atuava como docente no Colégio Pedro II. Pertenci ao Conselho Nacional da ABPp de 1997 a 2010. Presido a Fundação Aprender, em Varginha, instituição pública de Direito Privado, sem finalidades financeiras e de utilidade pública.Atualmente tenho me especializado em EaD e suas interfaces com a Psicopedagogia.

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